Novidades no Lugar de Ler
Chegou maio, com um curso lindão com Renato Moriconi e André Bomfim, inscrições abertas para a Oficina de escrita para o livro ilustrado, com Carolina Moreyra, e uma entrevista deliciosa!
ilustração de “Pedro e Paulo”, de Fábio Severino
A novidade mais quente desses dias é o lançamento da editora Joaquina, que já chegou abalando nossos corações e dando muito o que pensar. A editora é fruto do trabalho de três mulheres e já mostra claramente seu tom. Márcia Leite e suas filhas, Júlia e Mariana, já trabalhavam juntas na editora Pulo do Gato, mas se reinventaram diante do novo desafio, que não era um, mas muitos, como fica claro na conversa e que você pode ler aqui.
Na semana passada, Joaquina teve dois lançamentos de enorme sucesso. Tivemos a sorte de receber essas mulheres incríveis aqui no Lugar de Ler para o primeiro, que contou também com a presença de dois autores: André Neves e Fábio Severino, além de muitos amigos e leitores que vieram recepcionar a nova editora. O segundo, foi uma festa linda e lotada na Livraria Miúda, com a presença de mais dois autores: Letícia Graciano e Gustavo Piqueira, além de Fábio e André.
Seus seis primeiros livros revelam a intenção da editora: livros ilustrados contemporâneos, poéticos e que pedem reflexão, desviando do óbvio e marcando seu lugar no mundo. A Joaquina não apenas sabe por onde anda, mas inaugura novas trilhas, com um olhar afiado para a produção atual.
As quinas de Mariana, como ela conta abaixo, se complementam e contrapõem formando um triângulo, elas também apontam para diferentes direções e, como os livros ilustrados, revelam que os caminhos possíveis são tantos e tão diversos. Vida longa a essa casa que nasce apontando para onde não estamos acostumados a olhar.
ilustração de “O melhor dia da minha vida”, de Letícia Graciano.
Márcia, você tem uma longa história como editora. Conta um pouquinho qual o seu desejo para essa coleção que está nascendo, quais os fundamentos que te orientam e os pilares que definem sua linha editorial?
Tivemos um dilema desde que decidimos criar a editora Joaquina: qual o sentido de começar mais uma casa editorial e publicar mais livros em um contexto já tão ocupado e até asfixiado pelas inúmeras editoras e quantidade de títulos lançados anualmente? O desfecho de todos os embates que tive comigo mesma, e das tantas conversas que tivemos, Júlia, Mariana e eu, durante muitos meses, foi a percepção de que não encontraríamos respostas que justificassem o desejo vocacionado de prosseguir atuando na área editorial, mas que poderíamos nos desafiar a saber mais para fazer melhor o que já fazíamos bem: livros ilustrados.
O segundo dilema já estava nos rondando: por que livros ilustrados num mundo contemporâneo digitalizado? Se vivemos em um mundo em que o imediatismo e o consumo de imagens digitais assumiram total protagonismo na recepção e divulgação de toda ordem de conteúdos, a leitura do livro ilustrado, esse jogo de linguagens em que texto e imagem se fundem na arte do narrar, com seus inesgotáveis convites à fruição estética, não pode se tornar uma das mais (a)efetivas oportunidades para que a pessoa do leitor encontre atalhos analógicos que o conectem a seu mundo interior, igualmente analógico? Apesar do suporte físico resultar de uma reprodução industrial, em série, o livro ilustrado ainda carrega em si a capacidade de promover uma experiência única, subjetiva, e, quando possível, reflexiva, se a relação entre a obra e o sujeito – no caso livro e leitor – acontece. E, por que não publicar obras que podem contribuir para pequenas transformações?
ilustração de “papai apaixonado”, de André Neves.
E foi assim, por meio de dilemas e reflexões, que começamos a definir alguns dos fios condutores do nosso projeto editorial. Um deles é o propósito de descobrir, editar e divulgar livros ilustrados de autores brasileiros que manifestem originalidade, inovação e experimentação nas diferentes práticas do narrar e ilustrar. Outro, diz respeito ao criterioso acompanhamento editorial dos projetos selecionados durante todo o processo de criação e produção. Um terceiro se apresentou sem que nos déssemos conta previamente durante a edição dos primeiros títulos: percebemos que os temas e subtemas atravessavam cada título, mas não foram eles o pretexto da escolha da obra, e sim, mais uma vez a abordagem, a inventividade ou a inovação das linguagens verbal e visual da narrativa que a constitui. Um quarto critério também se anuncia a partir das obras que já editamos ou que estão em processo: os livros de Joaquina pedem e provocam silêncio, o que nos leva a observar a importância da leitura dos livros ilustrados para a construção do tempo interior do leitor. Sabemos que novos fios se somarão aos que já nos orientam, é essa capacidade de poder se transformar que torna a edição um processo vivo, reflexivo, inquieto e apaixonante.
No ano da inauguração de Joaquina, 2025, publicaremos títulos que anunciam os primeiros passos do nosso projeto editorial: livros com autoria brasileira contemporânea e catálogo com diálogo permanente entre obras de autores e autoras já (re)conhecidas no mercado editorial e obras de artistas que iniciam sua trajetória profissional na criação do livro ilustrado.
ilustração de “Prisma”, de Felipe Kehdi
Mariana, como foi pensar e desenvolver uma nova identidade do zero? Quais os princípios que te orientaram na criação do logo? Você pode mostrar imagens que revelem o caminho do seu pensamento até chegar à identidade da Joaquina?
Quando eu e Márcia começamos a pensar em como gostaríamos que fosse a identidade visual e o logo da Joaquina, optamos por um caminho mais simples e sintético, já sabíamos que colocar muitos elementos gráficos, cores fortes ou uma fonte ‘diferentona’, além de não ser a nossa praia, também poderia criar ruídos nas próprias capas de nossos livros, já que livros ilustrados trazem sempre muitas informações.
Então, primeiro, alinhamos todas essas questões do que almejávamos para a marca e, depois, comecei a fazer uma pesquisa sobre as tipografias, selecionando quais combinavam com o idealizado por nós. Depois de vários testes, escolhi uma tipografia mais básica e sem serifas, para valorizar a relação fonema/grafema do nome Joaquina, de forma clara, moderna e de fácil decifração.
Ao explorar a palavra Joaquina, fiz duas propostas de logo: uma com o nome por extenso, horizontal, e outra com a palavra dividida em duas partes, ocupando duas linhas. Também pensei em duas versões para essas propostas, acompanhadas ou não da palavra Editora.
Nesse primeiro momento, em ambas as versões, propus um tipo de grafismo de linhas, como um pequeno espiral, inserido no centro da letra Q. Gostamos muito de grafismos abstratos e manuscritos, mas achamos que estava sendo utilizado de forma aleatória, decorativa e não significativa, ou seja, não estava contribuindo com o sentido da marca.
Com as duas versões quase concluídas, tivemos a honra de contar com a amizade de Gustavo Piqueira, que não precisa de apresentações como designer, que nos sugeriu a divisão do logo em três linhas-sílabas, o que fortaleceu a relação gráfica e fonética. Ele também me fez repensar a função do grafismo na letra Q, já que desejávamos uma dinâmica de leitura clara e limpa. As sugestões do Gustavo valorizaram muito o logo e se encaixavam totalmente com o que esperávamos.
A partir do texto que Márcia fez para a apresentação da editora no nosso site (que nós três somos um trio intergeracional de mulheres, “quinas” de um triângulo que se complementam e se contrapõem), comecei a brincar com a ideia de quina e da triangulação em algumas peças de divulgação de nossas redes sociais. É uma outra forma de nos apresentar, além do logo.
Júlia, conta um pouquinho como concebeu o site e o que você projeta para a editora?
Quando começamos a conversar sobre o que queríamos para o nosso site, logo questões como a praticidade, funcionalidade e autonomia foram colocadas na mesa. O nosso objetivo era desenvolver um site simples, moderno e funcional. Optamos por ter um único domínio em que o e-commerce e outras informações pudessem estar em um único lugar. Comecei a fazer, então, uma pesquisa das plataformas existentes e escolhi uma em que eu mesma pudesse iniciar a criação do site do zero, e personalizá-lo da forma que fosse mais adequada para nossos objetivos.
ilustração de “Ximlóp”, de Gustavo Piqueira.
Escolhemos os conteúdos que julgamos importantes para a página de cada livro, como a sinopse e as informações técnicas de cada título, algumas curiosidades e a biografia dos autores. Por ser uma plataforma bastante personalizável, com a autonomia que desejávamos, podemos alterar, incluir e retirar informações e imagens de acordo com nossas necessidades. Estamos ainda complementando e definindo algumas informações que se relacionam com a comunicação com os profissionais da área sobre como e quando enviar originais e portfólios, e com os educadores, para que possam se inscrever e receber descontos exclusivos. Ainda este ano vamos disponibilizar um material de apoio à leitura e estamos pensando em introduzir um blog com textos de interesse geral sobre leitura e livros ilustrados, com textos de autores e autoras da Joaquina, da editora e de colaboradores.
ilustração de “mamãe apaixonada”, de André Neves.
Eu espero que as pessoas possam encontrar no nosso site o que buscam e se encantar com os nossos livros, assim como nós, na primeira vez que tivemos contato com eles. Estamos usando toda a experiência que temos no mercado editorial, buscando encontrar novas formas de nos comunicarmos e de nos conectar com as pessoas, sejam leitores, colaboradores ou fornecedores. Estamos fazendo aquilo que acreditamos e torcemos para que as pessoas possam sentir todo o amor e dedicação que colocamos nesse projeto que agora sai do papel e se torna realidade.
CURSOS E OFICINAS
Troca de leituras: o livro sob as lentes de um diretor; o cinema sob as lentes de um autor, com Renato Moriconi e André Bomfim
Sábado
de 24 e 31 de maio
das 15h às 17h30
carga horária: 5 horas
Valor: 250 reais (em até 3 vezes sem juros)
Câmera, travelling, montagem: esses são alguns dos termos evocados pela pesquisadora Sophie van der Linden para traduzir a experiência de leitura do livro ilustrado. Já para Godard, no cinema, palavra e imagem funcionam como o conjunto mesa e cadeira: você precisa desses dois elementos para ter uma boa refeição.
Mas o que tem de cinema nos livros e o que tem de livro nos filmes? Com essa pergunta em mente, o autor Renato Moriconi convidou o documentarista André Bomfim para uma conversa sobre as particularidades de cada área e suas interseções, através de análise de livros e filmes, sob a as lentes específicas de cada um e de cada área.
Oficina de escrita para o livro ilustrado, com Carolina Moreyra
às terças-feiras
de 26 de agosto a 04 de novembro
das 19h às 21h30
Carga horária: 25 horas
Valor: 1250 reais (em até 5 vezes sem juros)
VAGAS LIMITADAS!
O livro ilustrado, ou livro-álbum para alguns, conta uma história de uma maneira muito particular, valendo-se tanto de imagens quanto de palavras. Se é assim, o que muda quando escrevemos um texto para esse tipo de livro? O que acontece com as palavras quando elas vêm acompanhadas de imagens no contar de uma história?Para responder essa pergunta, a autora Carolina Moreyra irá analisar vários livros, sua estrutura, o jogo de vozes e subjetividades propostos por essa forma de escrita, até chegar na construção textual feita pela palavra dentro desse objeto tão particular que é o livro ilustrado.Por ser uma oficina prática, haverá também alguns exercícios de escrita e o acompanhamento de um texto criado por cada aluno e trabalhado ao longo das aulas. A ideia é que se trabalhe tanto a análise quanto a criação do texto nas suas particularidades dentro do livro ilustrado.
Clube de tear - práticas e descobertas na tecelagem, com Priscila Oliveira
às quintas, das 15h às 18h
encontros quinzenais
próximo encontro dia 8 de maio
O Clube de Tear é um espaço dedicado à prática e ao aprofundamento da tecelagem. A cada encontro, convidamos você a explorar as possibilidades da tapeçaria manual, combinando técnica, intuição e criatividade.Para quem é o clube: Aberto tanto para iniciantes quanto para quem já tem experiência no tear, o clube oferece uma jornada de aprendizado e troca.O que vamos explorar juntos:
• Introdução à tapeçaria manual e sua história;
• Inspiração por meio de artistas que utilizam a tecelagem em seus trabalhos;
• Montagem do urdume no tear de prego e práticas de manuseio;
• Criação de tramas básicas e padronagens iniciais;
• Técnicas de finalização e acabamento..
E nosso Acompanhamento de projetos, com sessões individuais e em grupo. Escreve para mim no lugardeler@gmail.com para marcarmos uma conversa.
Além disso, vamos nos encontrar na Livraria Miúda dia 13 de maio, às 19h, para ler e discutir livros-álbum. Para participar do Trocando na Miúda, só precisa comprar o livro do mês - “Lulu e o urso”, de Carolina Moreyra e Odilon Moraes, na Livraria Miúda. Dúvidas e reservas: (whatsapp) 11 9329-3120 e (telefone) 38715155. Vem!
Um beijo e até já,
Dani
Puxa, é muito bacana conhecer a história por trás da criação das editoras! Uma pergunta: a Pulo do Gato continuará existindo?