Um curso pode gestar outro. Uma pesquisa pode gestar outra. Um livro pode... A Casa Tombada nasce em 2015 do encontro entre a dimensão da oralidade na existência humana e o direito à escrita como forma de se dizer ao mundo.
Em meio às pesquisas das áreas guiadas pela poeta Ângela Castelo Branco, o narrador de história Giuliano Tierno e a jornalista Cristiane Rogerio já esbarrava em suas portas e janelas um certo outro modo de narrar que havia pelo menos 10 anos intrigava o mercado editorial, educadores, pesquisadores, contadores de histórias e autores de livros: o tal “livro ilustrado”.
Podemos dizer que a pós-graduação O Livro Para a Infância, hoje na 11a turma, co-criada e co-coordenada por Cristiane Rogerio surge deste impulso. Como é até hoje, a jornalista já era colaboradora da Revista Crescer, de onde pode assistir a esse movimento artístico e cultural no mercado editorial e, no primeiro ano d’A Casa, um curso de extensão evidenciou que o livro ilustrado - ou livro-álbum ou picture book - precisava ter seu lugar de estudo.
E ele ganha seu primeiro espaço exclusivo n’A Casa em 2018 na Oficina Criação de Livro Ilustrado realizada n’A Casa presencialmente pelos autores e pesquisadores Carolina Moreyra e Odilon Moraes. Uma imersão intensa de 5 dias em que se convida os estudantes a um mergulho, meio que “pule aqui e veja o que acontece”. Ela te coloca em movimento. Em cada edição - 7 presenciais e duas online - um grupo de aproximadamente 15 pessoas, entregues ao exercício de criar, experimentar, sair da zona de conforto. E a cada edição que passa é visível o aumento do interesse não somente em si próprio como criador, mas também nas complexas tramas - e alguns dramas - da publicação, circulação e mediação do livro ilustrado, este objeto de e para leitura em que palavra, imagem e design se unem para narrar uma história.
E muitas obras nos marcam para sempre. Carolina Moreyra e Odilon Moraes parecem nos levar para um lugar “mágico”, nos hipnotizam à moda Flautista de Hamelin, em suas mediações de livros em que os autores deitaram e rolaram na linguagem híbrida do livro ilustrado. Nos hipnotizam não somente pelo modo apaixonante e apaixonada/o de mostrar o livro, mas por nos apontarem os detalhes, as sacadas mais geniais dos autores, as ideias e soluções, muitas vezes alguns bastidores e histórias das edições originais e aqui no Brasil. Não é um jeito qualquer de ler mesmo. Carolina é a rainha das camadas - as vozes narrativas, os pontos de viradas, os tempos das histórias, as entranhas das estruturas de determinada escolha de narração, conflitos e transformações; Odilon é o rei da contextualização - ano em que determinada edição foi lançada, o que acontecia junto na mesma época, que Brasil tínhamos no campo da LIJ, edições alteradas, quem sabe que nome ao que. E aí vamos desde Onde Vivem os Monstros (Maurice Sendak, Cia das Letrinhas) e Lá em Casa Somos (Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, Sesi-SP), a Ida e Volta (Juarez Machado, Agir) e Este Chapéu Não É Meu (Jon Klassen, WMF Martins Fontes) - e paramos por aqui para não revelar tantos segredos, rs.
Mas e o outro lado? Como fica a turma? A imersão é a semana toda, um dia inteiro. Muita intensidade. Tomam vários cafés e almoçam juntos/as, totalmente monotemáticas/os. Os primeiros dias, sob as provocações de Carolina e seus estudos de roteiro e cinema, o desafio de trazer uma história inédita que seja um livro ilustrado - de cara, aprendemos: o livro ilustrado não é nenhum tipo de evolução, algo melhor que outra forma de narrar, com mais texto, por exemplo. Por isso, algumas vezes, determinada ideia pode caber melhor em outra linguagem. O desafio é que se conte algo que ora esteja em palavra, que ora esteja em imagem e que tamanho do livro, número de páginas para isso ou aquilo, estimule um ritmo à leitura, sendo esta parte do próprio narrar. É assim que a personagem bicho-preguiça de Mariana Karas Zella leva 2, 3, ou 4 páginas para completar uma frase ou que contemos os dias para uma mãe-sabiá se entender como mãe na criação de Aline Lima (ambas alunas da turma 9 da oficina, que acabamos de viver n’ A Casa entre os dias 20 e 24 de janeiro de 2025). Quem manda em tudo é a tal “fragmentação”, assim como no cinema. “Uma página isolada não significa nada em um livro ilustrado. Ela só existe na relação com outra”, nos ressalta sempre Carolina. Ela lança as perguntas às turmas: “qual é a estrutura deste livro que estou lendo? qual é a estrutura deste livro que eu quero criar? O que o personagem deseja? O que acontece com ele? O que eu devo mexer para a história/o livro ficar melhor?”.
As primeiras criações acontecem. É fascinante como de um dia para o outro elas vão nascendo, se transformando, ganhando, literalmente forma e conteúdo - sendo que, no mundo do livro ilustrado, forma e conteúdo vivem compartilhando seus lugares. Na metade da semana, chega Odilon Moraes com seus teóricos amados - muitos nem sequer de livros ilustrados, mas de pensamento de narrativas ou de fragmentação da imagem, seu lugar de nascença. É quando começamos a ouvir máximas do tipo “a inteireza da obra só se dá na parceria” ou “escrever é dizer o que não está ali” (sempre sob a perspectiva de que o desenho também é uma escrita) e que, em um livro ilustrado, estamos lendo “entres” e “escondidos” a todo momento. O que nos angustia, nos fascina, nos impulsiona a criar e a ler.
A semana segue diante de muitas transformações, criação de vínculos, emoções. Tem mudança de ideia e reviravoltas, pitacos no projeto alheio, títulos que se alteram, formatos que às vezes são definidos no final. Definidos no final? Mas qual é o final de uma imersão coletiva criativa? Um desejo de seguir nesse universo? De se aprofundar? Será que uma semana é suficiente?
Por isso, ela é o grande impulso para o nascimento da pós-graduação Criação de Livro Ilustrado criada e coordenada por Clara Gavilan e Cristiane Rogerio, caminhando para sua segunda turma. Depois do pulo de cabeça, vem o mergulho mais profundo. A pós vai além de Carolina e Odilon. Ela traz um grupo de pensamento e outros pensadores. O livro ilustrado está vivo! E todo mundo que faz parte deste grupo dialoga com os dois. Todos são autores e pesquisadores como eles. Uma investigação mais longa com tempo para olhar os detalhes e expandir ainda mais o conhecimento.
programação:
{a casa tombada}
. Pós-graduação: “Criação de livro ilustrado: repertórios e experimentações para produções autorais", coordenação de Clara Gavilan e Cristiane Rogerio, 100% online. saiba+
. Pós-graduação: "Caminhada como método para Arte e Educação", coordenação de Edith Derdyk e Bárbara Melo, 100% online. saiba+
. Ciclo de estudos: "Fabulações singulares sobre origens plurais ", curadoria de Edith Derdyk, 100% online. saiba+
. Curso de extensão universitária: "Pilares na construção visual dos livros: design, tipografia, cor, produção gráfica", 100% online, Raquel Matsushita. saiba+
{lugar de ler}
. Isso dava um livro, com Marcela Dantés saiba+
. Livro-imagem: leitura, composição e narrativa, com Luisa Setton saiba +
. Oficina de escrita para o livro ilustrado, com Carolina Moreyra saiba+
. Acompanhamento de projetos, com Dani Gutfreund (em grupo ou individual) saiba+
. Clube do tear saiba +
{usina de imagens}
Perdeu o timing da matrícula? Relaxa, a Usina adiou o início das aulas para a segunda semana de março! Ainda dá tempo de entrar no bloco! I saiba+
Fique de olho! A cada mês traremos novidades, reflexões e oportunidades imperdíveis para você se aprofundar no universo do livro.
Até breve e boas leituras!
quanta gente boa junto! que potência!